A Bolívia sofreu uma tentativa de golpe de Estado liderada pelo ex-comandante do Exército do país nesta quarta-feira (26). Tanques do Exército e militares armados chegaram a invadir um palácio do governo em La Paz. No entanto, o ato fracassou.
Os militares ocuparam o Palácio Quemado, que foi usado como palácio presidencial até 2020, além de uma praça que fica em frente ao edifício histórico. O presidente boliviano, Luis Arce, não estava no local.
A tentativa de golpe na Bolívia é a segunda em cinco anos e foi arquitetada pelo general Juan José Zúñiga. Ele acabou sendo preso e acusou Arce de orquestrar o ato.
Até a última atualização desta reportagem, o presidente boliviano não havia se manifestado sobre a acusação.
Na terça-feira (25), Zúñiga foi destituído do cargo de comandante-geral do Exército após fazer ameaças ao ex-presidente Evo Morales. O general afirmou que prenderia Morales caso o ex-presidente voltasse ao poder.
Após cerca de quatro horas de tensões, que incluíram uma discussão entre Luis Arce e Zúñiga, o movimento foi desmobilizado por ordem do presidente. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento da discussão.
Desmobilização
Em pronunciamento, Arce anunciou que estava destituindo os outros dois comandantes da Marinha e da Força Aérea, nomeando novos chefes para as Forças Armadas.
O novo comandante do Exército, nomeado nesta terça por Arce, ordenou oficialmente a desmobilização das tropas rebeldes. Cerca de três horas depois da invasão, os tanques se retiraram do palácio e da Praça Murillo, que fica em frente ao edifício histórico.
Zúñiga disse a TVs locais que o movimento era uma “tentativa de restaurar a democracia” na Bolívia e de “libertar prisioneiros políticos”. No entanto, a tentativa de golpe foi fortemente condenada até por adversários políticos de Arce, como a ex-presidente da Bolívia Jeanine Áñez.
A Suprema Corte da Bolívia também condenou a tentativa de golpe e pediu à comunidade internacional que se mantenha “vigilante em apoio à democracia na Bolívia”.
A Procuradoria-Geral da Bolívia anunciou que abriu uma investigação contra Zúñiga e os militares que participaram da tentativa de golpe. O general também se tornou alvo de um processo judicial aberto por senadores bolivianos.
Morales
Mesmo fora do poder e impedido de concorrer à presidência, o ex-presidente Evo Morales foi uma das figuras centrais do episódio desta quarta-feira.
O ex-presidente foi o alvo das falas de Zúñiga que causaram a demissão do ex-comandante do Exército. Como reação, Zúñiga mobilizou soldados e tropas aliadas e fez a tentativa de golpe.
Arce saiu em defesa de Morales, mesmo sendo atualmente rival do ex-presidente. Os dois, antigos aliados, romperam no ano passado após o ex-presidente anunciar a intenção de se candidatar novamente à presidência.
Atualmente, Morales tenta derrubar uma decisão da Justiça que impede sua candidatura, com base no argumento de que um cidadão não pode ocupar mais de duas vezes um cargo público.
Mesmo rivais, Arce e Morales fazem parte do mesmo movimento político.