Por: Hugo Leonardo Mariano Mendonça, Bacharel em Segurança Pública pela APMG-PR e em Direito pela Unopar-PR. Especialista em Segurança Pública e Gestão Pública pela Faculdade São Brás.
E-mail: hugo_leonardo_mendonca@hotmail.com
Resumo
Este artigo analisa o declínio do Estado de Bem-Estar Social europeu, estabelecendo um paralelo com a queda do Império Romano do Ocidente. O aumento da carga tributária, a queda da natalidade, a perda de valores tradicionais e a burocratização são destacados como fatores determinantes da crise. Além disso, a necessidade de rearmamento diante da ameaça russa agrava ainda mais a situação, impondo maiores gastos militares em um contexto de fragilidade econômica. A Europa corre o risco de repetir os erros do passado, enfrentando um processo de decadência social e econômica.
Palavras-chave: Estado de Bem-Estar Social. Queda do Império Romano Ocidental. Carga Tributária. Declínio Demográfico. Rearmamento Europeu.
Introdução
O Estado de Bem-Estar Social europeu, outrora um paradigma de justiça social e prosperidade, enfrenta um declínio inexorável. Suas raízes, fincadas no pós-guerra, visavam garantir um mínimo de dignidade e segurança aos cidadãos por meio de um robusto sistema de proteção social. No entanto, o modelo, outrora celebrado, revela-se insustentável diante das transformações socioeconômicas do século XXI. Este artigo científico busca analisar as causas e consequências do falido Estado de Bem-Estar Social europeu, traçando um paralelo com a queda do Império Romano do Ocidente, a fim de elucidar as semelhanças entre os dois cenários e alertar para os perigos que a Europa enfrenta, agravados pelo atual contexto geopolítico.
Como chegamos a esse ponto? Um paralelo com a Antiguidade
O Império Romano do Ocidente, outrora um gigante político e militar, sucumbiu a uma série de fatores interligados. Alguns desses fatores se assemelham aos desafios enfrentados pela Europa contemporânea. A crescente burocratização e a necessidade de financiar um vasto aparato estatal levaram a um aumento exorbitante da carga tributária, sufocando a economia e desincentivando a produção.
A queda da natalidade, impulsionada pela busca por conforto e pela perda de valores tradicionais, resultou em uma escassez de mão de obra e na necessidade de recrutar “bárbaros” para o exército romano. Além disso, a perda de valores como disciplina e patriotismo, aliada à ascensão de um hedonismo desenfreado, corroeu a fibra moral da sociedade romana.
De forma semelhante, o Estado de Bem-Estar Social europeu, com sua alta carga tributária e burocracia excessiva, sufoca a iniciativa privada e desincentiva o empreendedorismo. A queda da natalidade, impulsionada pela segurança estatal e pelo alto custo de vida, leva ao envelhecimento da população e à diminuição da força de trabalho. A perda de valores tradicionais, como a religiosidade e a estrutura familiar, somada ao individualismo exacerbado, fragiliza os laços sociais e compromete a coesão da sociedade europeia.
Como amplamente evidenciado nos estudos de Friedrich Hayek e Milton Friedman, a intervenção estatal excessiva pode prejudicar a liberdade econômica, a eficiência, o crescimento e a prosperidade de uma sociedade. Em termos simples, quanto menor a interferência do Estado na vida do cidadão, maior tende a ser o progresso.
Agora, imagine um muçulmano desempregado, em idade militar, que fugiu da Síria ou do Paquistão e vive às custas do Estado em países como Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica ou Holanda. Esse cenário levanta questões sobre os desafios da imigração e da sustentabilidade do modelo de bem-estar social europeu.
Em 2020, por exemplo, cerca de 26% da população da Suécia era composta por imigrantes, sendo a maioria oriunda da Síria, Afeganistão, Somália e Iraque. Paralelamente, os cidadãos europeus enfrentam um aumento significativo do custo de vida, agravado por uma carga tributária crescente.
O aumento dos gastos públicos gera déficits, exigindo mais impostos. Quando a arrecadação não é suficiente, governos recorrem à inflação, que corrói o poder de compra e empobrece gradativamente a população.
O Welfare State desenvolveu diversos órgãos e serviços, destacando-se os previdenciários e assistenciais. No entanto, manter esses benefícios exige uma carga tributária superior a 40% do PIB em muitos países europeus. Ainda assim, nações como a Itália registram déficits constantes, com sua dívida bruta ultrapassando 140% do PIB.
Esse modelo político-econômico parece estar se esgotando, tornando cada vez mais caro viver na Europa. Com um custo de vida elevado e o Estado assumindo responsabilidades como aposentadorias e saúde, muitos europeus optam por não ter filhos.
Antigamente, os filhos sustentavam os pais na velhice, mas a Europa inverteu essa lógica. Se o Estado provê o sustento na aposentadoria, qual seria a necessidade de ter filhos? Esse pensamento pragmático, embora confortável no curto prazo, revela-se suicida a longo prazo.
Com baixas taxas de natalidade, há escassez de mão de obra em diversos setores. Como solução, a imigração tornou-se essencial para suprir vagas em áreas que os europeus evitam, como trabalhos braçais, serviços de limpeza e manutenção.
Mas de onde vêm esses imigrantes? Majoritariamente de países em crise econômica e social, frequentemente afetados por conflitos, como diversas nações da África e do Oriente Médio. Esse fenômeno levanta um novo desafio: as diferenças culturais e religiosas.
Enquanto muitos imigrantes se adaptam à cultura europeia, outros rejeitam essa assimilação, criando tensões sociais. Assim, em vários países da Europa, observamos um embate entre a cultura ocidental do Estado de Bem-Estar Social, caracterizada por famílias pequenas e alto custo de vida, e a cultura islâmica, que valoriza famílias numerosas e tem uma visão distinta sobre direitos humanos e valores ocidentais.
O aumento das disputas culturais e religiosas, das taxas de criminalidade e dos ataques terroristas são indícios de que esse conflito está em curso, trazendo desafios que a Europa precisará enfrentar nas próximas décadas.
Paralelos Detalhados
- Aumento da Carga Tributária:
- Em Roma, a necessidade de financiar um exército vasto e uma burocracia crescente levou a impostos esmagadores, desmotivando a produção e o comércio.
- Na Europa, o financiamento de sistemas de bem-estar social extensos resultou em cargas tributárias elevadas, prejudicando a competitividade e o crescimento econômico.
- Declínio da Natalidade e Imigração:
- A busca por conforto e a decadência dos valores tradicionais em Roma resultaram em uma queda na população romana, levando à necessidade de recrutar “bárbaros” para o exército.
- Na Europa, a baixa natalidade e o envelhecimento da população criam dependência da imigração, gerando desafios de integração e tensões sociais.
- Perda de Valores Tradicionais:
- A disciplina, o patriotismo e a religiosidade, outrora pilares da sociedade romana, foram erodidos por um hedonismo crescente e pela decadência moral.
- Na Europa, a secularização, o individualismo e a relativização dos valores tradicionais enfraquecem os laços sociais e a coesão da sociedade.
- Burocracia e Estagnação:
- A burocracia romana, com suas regulamentações excessivas, sufocou a iniciativa privada e a inovação.
- Na Europa, a complexidade dos sistemas de bem-estar social e a regulamentação excessiva criam obstáculos ao empreendedorismo e ao crescimento econômico.
- Desmilitarização:
- O Império Romano, com o passar dos anos, acabou desmilitarizado, contratando mercenários para lutar em seu lugar.
- A Europa, em grande parte, delega sua defesa aos Estados Unidos, que estão progressivamente reduzindo seu comprometimento com a segurança do continente.
O Desafio Geopolítico Atual
O já esgotado Estado de Bem-Estar Social europeu enfrenta agora seu pior desafio: o rearmamento e enfrentamento da Rússia. Com os países do bloco extremamente endividados, agora necessitam mobilizar cerca de 5% de seus respectivos PIBs para a Defesa. Exércitos reduzidos e desmobilizados precisam de altos investimentos, na casa de centenas de bilhões de euros. Esse cenário reforça a vulnerabilidade econômica e social do continente, tornando incerto o futuro do modelo de bem-estar social europeu.
Referências
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