A comunidade de Aricanduva, distrito de Arapongas, realizou neste sábado (14) um protesto pacífico para cobrar providências em relação ao mau cheiro e à infestação de moscas provocados por uma granja da região.
Os moradores afirmam que há mais de dois anos convivem com a situação insustentável, que tem afetado diretamente a saúde e a qualidade de vida de todos.
Durante a manifestação, o morador Luciano José Alves, que também é motorista da saúde da Prefeitura de Arapongas, fez um desabafo em nome da comunidade:
“O motivo dessa manifestação aqui hoje é que faz dois anos que a gente suporta a dor, uma granja da região, um mau cheiro e muitos mosquitos, que estão tornando nosso distrito, que tem quase 100 anos, inabitável. Esse hoje é o primeiro protesto para a gente deixar bem claro que chega nessa situação. Queremos apenas a resolução do problema, cobrando todos os órgãos competentes na região para nos socorrer, que faz dois anos que a gente está nessa luta.”
Luciano também pediu a intercessão do poder público local:
“Pedimos a intercessão da Prefeitura Municipal. Eu acredito no prefeito Rafael Cita, que é um grande amigo meu, mas que ele, pessoalmente, comece a cobrar os órgãos competentes, seja a Secretaria de Meio Ambiente e a Vigilância Sanitária. Está inabitável em Aricanduva. A gente perdeu o direito nosso de viver em Aricanduva, nossas crianças perderam o direito de se alimentar adequadamente e estamos vivendo num presídio moderno hoje. Por exemplo, a minha casa está fechada de tela e com ar-condicionado. Aí eu pergunto: e aqueles que não têm condições de viver? Aricanduva é um distrito pobre.”
Ele ainda destacou que a comunidade não quer o fechamento da granja, mas sim a adequação das atividades:
“Em nenhum momento a gente quer o fechamento da granja da região. A gente quer que apenas eles se adequem ao sistema de saúde para todos vivermos felizes. E eles têm grande possibilidade de fazer isso, pois é um grupo muito forte, um dos grupos mais ricos da América Latina. Que esse vídeo chegue ao proprietário, que é só isso que a gente quer. Tem moradores de Aricanduva que dependem do emprego lá, a região depende. É um protesto para dizer que chega dessa situação, queremos apenas a solução. Chega disso.”
Luciano afirmou que a manifestação foi organizada de forma pacífica e que novas mobilizações podem ocorrer:
“Esse protesto foi uma reunião feita pelas comunidades e lideranças locais. A gente deveria fazer o primeiro protesto, sem prazo indeterminado. Se amanhã não resolverem o problema, sábado que vem estaremos aqui de novo, até alguém interceder e socorrer a gente no distrito de Aricanduva.”
De acordo com o morador, o problema atinge todo o distrito e áreas vizinhas:
“Atinge todo o distrito, a região, uma linha adjacente de Apucarana, de Arapongas e a zona rural. É um odor terrível. A gente não tem plantão 24 horas da Polícia Ambiental, eles sabem disso, agem de má fé e geralmente fazem essas liberações depois das 18h ou na madrugada. Agora o mosquito é cotidiano, eles maquiam um dia, dois dias, e depois volta.”
Ainda segundo ele, diversas denúncias já foram feitas:
“Já foi feito o contato com o meio ambiente de Arapongas, a vigilância sanitária, Ministério Público de Arapongas, Ministério Público de Curitiba, e também contamos agora com um grupo de advogados que se sensibilizou e se prontificou a nos ajudar gratuitamente em nome da comunidade.”
Durante a manifestação, os moradores levaram cartazes com frases como “A granja está tirando nossa paz” e “Nossa saúde não está à venda”, exigindo fiscalização urgente, medidas sanitárias e ambientais de controle, além de mais transparência dos órgãos públicos.
“É uma manifestação pacífica. Vamos sair aqui com a comunidade, descer numa estrada pública e fazer um manifesto. Chega de mosca, chega de odor que a gente não aguenta mais. Vai ser extremamente pacífico”, concluiu Luciano.
Além de Luciano, outros moradores também expressaram sua indignação durante o protesto.
Cleiton, morador de Aricanduva, destacou o sofrimento diário da população:
“Já faz tempo que nós da comunidade estamos ficando revoltados com o que está acontecendo. A gente não pode fazer nada, não pode fritar nada. Tem os problemas dos mosquitos e agora do odor. Isso está causando bastante problema para nós lá na comunidade e tem que ter uma solução. A gente quer essa solução para que resolva nosso problema, tire esse odor, o fedor, e também o problema dos mosquitos. Fé em Deus, eu acho que vai acontecer.”
Pedro, morador do assentamento Dorcelina Folador há 25 anos, relembrou a falta de providências do poder público:
“Quando a gente espera pelo poder público, a gente acaba passando anos e o problema não é resolvido. Algum tempo atrás, nós íamos jogar futebol aqui no espaço dessa granja e, na hora de beber água, a caixa d’água estava com um cadeado. O pessoal local disse que a água estava contaminada. Como que uma empresa desse porte produz ovos com água contaminada? Eu fico imaginando. Imagine, nas datas importantes do ano, você não poder fazer uma confraternização num aniversário, num batizado, na Páscoa, Dia das Mães, no Natal. Você não pode convidar os parentes porque, quando coloca os alimentos na mesa, eles ficam cobertos de moscas. É uma situação inaceitável. O trabalho é importante, o emprego é muito importante, mas tem que ser feito com respeito, para que todos façam com dignidade.”
Alencar, também do assentamento Dorcelina Folador, ressaltou a importância da união da comunidade:
“É importante para nós nos somarmos a essa luta dessa comunidade vizinha. Por mais que eles sejam a comunidade mais próxima, o problema já está chegando até a nossa comunidade, que fica a 8 quilômetros de Aricanduva. Está praticamente impossível fazer o almoço com tranquilidade, as moscas não nos deixam em paz.
Nós não acreditamos que a melhor forma de resolver essas questões ambientais seja apenas esperar. A melhor forma de resolver é assim: juntar a comunidade, vir aqui, somar forças, divulgar na imprensa e dar voz à comunidade. Nós não somos contra a produção, nem contra o desenvolvimento, nem contra o emprego. O que estamos pedindo é que se produza com responsabilidade. Tem que se produzir, mas também tem que cuidar dos dejetos, tem que cuidar para que não gere esse incômodo para as famílias.”