Eu não estou aqui na Câmara Municipal por conta de Jair Bolsonaro e não estou aqui por conta de Lula”, diz Moisés Tavares ao lamentar tumulto em sessão.
Durante a sessão da Câmara Municipal de Apucarana realizada na noite desta segunda-feira (2), o vereador Moisés Tavares fez um pronunciamento contundente lamentando os episódios de tumulto e violência que marcaram os debates no plenário, motivados pela votação de um título de cidadão honorário ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em seu discurso, Tavares avaliou de forma crítica o ocorrido. “Pois é, com tudo o que aconteceu, infelizmente, dessa vez eu lamento e avalio de forma triste. Apesar da Câmara Municipal ser a casa do apucaranense, o espaço de debate, a casa que de fato, o parlamento, que é o lugar de falar, de discutir, infelizmente, quando qualquer discussão leva à violência, para mim perde o sentido”, afirmou.
O vereador ressaltou que a violência física e a retirada forçada de pessoas do plenário comprometeram o propósito do debate democrático. “Violência física, inclusive, violência à força retirada de pessoas do plenário que, por motivações, muitas vezes pela emoção do assunto tratado aqui, se exaltam e pela exaltação acabam perdendo a educação, o respeito, a consciência, inclusive, dos seus posicionamentos”, lamentou.
Tavares ainda destacou que a sessão teve 13 pautas importantes, que tratavam de temas como saúde, educação, transparência dos recursos públicos e conselhos municipais, mas que foram ofuscadas pelo tumulto gerado em torno da homenagem. “Essa legislatura tem vindo numa safra muito boa, de boas proposições, que de fato enaltecem o apucaranense. Nós sabíamos que, em algum momento, essa pauta, a partir do momento que foi proposta para homenagear um ex-presidente da República, geraria uma divisão considerável de opiniões, não só dos parlamentares, mas da população.”
O parlamentar também enfatizou que sua atuação política é independente e que sua decisão de votar contra a concessão do título se baseou justamente nos efeitos negativos que previa. “Eu quero dizer bem claro que eu não estou aqui na Câmara Municipal por conta de Jair Bolsonaro e não estou aqui por conta de Lula. Nenhum dos dois sabe que eu existo e, muito menos, que Apucarana existe. Em algum momento, após a sessão da Câmara Municipal, eles continuam nos seus lugares, nos seus gabinetes, mas alguém aqui em Apucarana saiu machucado, opiniões saíram diversas, amizades foram rompidas aqui e, às vezes, a reputação de algumas pessoas foi construída baseada naquilo que viram aqui.”
Moisés Tavares reforçou que votaria da mesma forma, independentemente do homenageado. “Eu votei contra o título de cidadão honorário ao ex-presidente Bolsonaro porque, justamente, entendia que isso ia acontecer aqui. Como votaria contra se fosse o presidente Lula ou qualquer outro presidente da República.”
O vereador ainda fez uma reflexão sobre a polarização política no país e o impacto negativo que ela tem gerado nas relações sociais. “Ultimamente, nos últimos anos, a questão da política nacional está gerando muita divergência, muito extremismo, muita raiva, alimentada inclusive nas redes sociais, por conta de pessoas que não sabem nem que a cidade existe.”
Sobre a homenagem, Tavares apontou a incoerência de se prestar tributo a uma figura que nunca esteve em Apucarana. “De fato, fazer uma homenagem para alguém que nunca pisou na cidade de Apucarana, para mim é incoerente. Eu me lembro que, na história recente, o último presidente da República que pisou na cidade de Apucarana tem 30 anos, que foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que veio aqui inaugurar a primeira vila rural do Brasil, que virou um modelo para o país inteiro.”
Por fim, Tavares concluiu seu posicionamento reafirmando sua independência política e destacando que a credibilidade do seu mandato não está vinculada a nenhuma figura nacional. “Todos os presidentes da República fizeram bons programas que os mais de cinco mil municípios do país inteiro foram beneficiados. Se for homenagear todo presidente que fez alguma coisa, com certeza todos merecem, e ao mesmo tempo todos não merecem, porque em algum momento alguém não vai gostar disso. Mas, obviamente, que geraria esse transtorno. E vou ter muita tranquilidade de votar contrário, porque, repito, não estou aqui por conta de Bolsonaro e não estou aqui por conta de Lula. E não estarei. A minha credibilidade e a minha reputação não estão baseadas nisso.”